O nascimento de Jack Kerouac





Logo após e por causa do 11 de Setembro, resolvi ir para os EUA refazer a viagem feita pelo escritor Jack Kerouac para escrever o livro On The Road. A intenção era rever a mitologia da moderna contra-cultura ocidental - que teve origem com o movimento Beatnik, contumaz saco de pancada de oportunistas que precisam parecer mais espertos do que são.

Consegui fazer a viagem em 2003, acompanhado da fotógrafa Luiza Leite. Foram 3 mil fotos, em diversos registros, do digital, a roleiflex, passando pelos últimos filmes polaroids disponíveis no mercado.

Foram meses de viagem da costa Leste até a Costa Oeste.

Depois da viagem, fui no programa do Jô Soares e contei umas pitadas da história.

Sete anos depois, ainda não havia terminado de escrever o livro. Editores, amigos, a fotógrafa do projeto, todos já estavam descrentes que algum dia ele seria finalizado. Ir a Bienal do Rio, a Flip de Paraty, ou a Feira do Livro de Porto Alegre era passar o vexame de dizer: "Paciência. Tá ficando pronto." durante 7 anos, eu respondia com cara de Guilherme Fontes. Este livro era o meu Chatô. Seria a minha ruína.

Agora está ficando pronto.

E ontem foi aniversário de Jack Kerouac.

Resolvi:

1) Comemorar o aniversário de Kerouac aqui, agora, neste post.

2) Passar a publicar algumas fotos da viagem e, quem sabe, trechos do romance - ainda sem título.

3) Atualizá-los com a produção do filme On The Road, projeto de Francis Ford Coppola e Walter Salles, que também está encruado, no papel, há quase tanto tempo quanto meu livro.



Começando pelo começo. O Aniversariante:

Aqui, um raro registro de Kerouac falando em sua lingua natal, o francês:

http://archives.radio-canada.ca/arts_culture/litterature/clips/126/











Trechos de On The Road

''Para mim, pessoas mesmo são loucos, os que estão loucos para viver, loucos para falar, loucos para serem salvos, que querem tudo ao mesmo tempo agora, aqueles que nunca bocejam e jamais falam chavões, mas queimam, queimam, queimam como fabulosos fogos de artifício explodindo como constelações''.

''Ele se aproximou vagarosamente: 'Ei rapazes, vocês estão indo para algum lugar específico ou apenas estão indo?Não entendemos bem a pergunta. Era uma pergunta boa pra cacete''.

''Foi triste vê-los partir; percebi que jamais voltaria a rever qualquer um deles, mas na estrela era assim mesmo''.

''Simplesmente não dormirei nunca, decidi. Havia tantas outras coisas interessantes para fazer''.

''De repente, percebi que estava na Califórnia. Ar cálido e próspero soprando entre as palmeiras - ar que se pode beijar''.

''Pelo menos tinha aprendido a rir melhor do que qualquer pessoa no mundo, e eu percebi o quanto nos divertiríamos em Frisco''.

''Todos os maus espíritos desse mundo estão a fim de nossa cabeça. Depende da gente impedir que eles nos imponham ordens''.

''Botei a cabeça para fora da janela e aspirei profundamente o ar perfumado. Foi o mais sublime de todos os momentos''.

''Mas para que pensar nisso quando se tem pela frente toda a vastidão dourada da Terra e acontecimentos imprevisíveis de todos os tipos estão à espera, de tocaia, para te surpreender e te fazer ficar satisfeito simplesmente por estar vivo para presenciá-los?''

''Quando eu fechava os olhos, tudo que eu sentia era a estrada sendo devorada embaixo de mim''.

''Chega o momento de agir e eles ficam completamente paralisados, histéricos, assustados - nada mais os amedronta do que aquilo que querem''.

''Estendido sobre a capota do carro olhando para o céu escuro era o mesmo que estar trancado dentro de um baú numa noite de verão. Pela primeira vez na vida, o clima não era algo que me envolvia, m
e acariciava, me enregelava ou fazia suar - mas era parte de mim mesmo! A atmosfera e eu nos tornamos a mesma coisa''.

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