A Filosofia de Stanley Kubrick

Não me pergunte como, mas arrumei tempo para preparar o mais completo curso sobre a obra de Stanley Kubrick apresentado em Pindorama.

Duvida? Saca só
:






A Ata? Em detalhes:

Aula 1. Stanley Kubrick, o último Modernista.
Arte Conceitual e Vídeo Arte em Stanley Kubrick.
Filosofia da Arte ou Cinema como suporte para a Filosofia?

Aula 2. Descobrindo otimismo na obra de Stanley Kubrick.
Modelando o futuro - 2001: Uma odisséia no espaço com Homero e Jung .
Laranja Mecânica - Alex como a continuação do Starchild, encarnação de Ricardo III de Shakespeare e do mito de Prometeu.

Aula 3 . Descobrindo otimismo na obra de Stanley Kubrick.
"Painting in White" - Barry Lyndon, Édipo e Hamlet.
"Painting in Black" - Nascido Para Matar, Rolling Stones, e o "Mundo de Merda".
Hotel Overlook, espiritualidade Zen e Alice no País das Maravilhas em "O Iluminado".

Aula 4. Roteiro em Stanley Kubrick.
Método de trabalho: roteiro a quatro mãos.
Roteiro adaptado versus roteiro original: as obras literárias adaptadas por Kubrick.
De Nabokov a Dalton Trumbo. Co-roteristas: rivais imprescindíveis.
Kubrick e o screenwriting judaico.

Aula 5. Música em Stanley Kubrick.
Walter e Wendy Carlos em Laranja Mecânica.
Por que Strauss em 2001.
Ligueti, compositores de vanguarda e sua função para entender a obra de Kubrick. 
Stanley Kubrick, o 1o videomaker.

Aula 6. A Cura em a Laranja Mecânica.
O Absurdo em Barry Lyndon.
O Barroco Inglês e Barry Lyndon.
Ética existencialista em Glória Feita de Sangue.

Aula 7. Entendendo o Inimigo - O diálogo entre Fear and Desire e Dr. StrangeLove.
A Lógica de Lolita: Kubrick Nabokov e Poe.
Lolita é Dolores - a Dama das Dores.

Aula 8. Em algum lugar no fim do arco-íris: Morte e vida em De Olhos Bem Fechados.
"Por favor, me transforme em um garoto REAL": Amor e morte em A.I. - Inteligência artificial.
Nietzsche: o pós-humano em 2001 e Moral, Caos e Ordem em Nascido Para Matar.


Aula 9. Niilismo e Liberdade na obra de Stanley Kubrick.

Tudo isso aos sábados, no delicioso espaço de palestras da Livraria Café Moviola, em Laranjeiras.

Começa no dia 10. Ligue pra lá e garanta sua vaga. Elas são, claro, limitadas.

Moviola Café - Rua das Laranjeiras 280 Lojas B e C Rio de Janeiro Tel (21) 2285 8339 moviola.contato@gmail.com


Vai ser divertido. Vejo vocês lá, né?

O nascimento de Jack Kerouac





Logo após e por causa do 11 de Setembro, resolvi ir para os EUA refazer a viagem feita pelo escritor Jack Kerouac para escrever o livro On The Road. A intenção era rever a mitologia da moderna contra-cultura ocidental - que teve origem com o movimento Beatnik, contumaz saco de pancada de oportunistas que precisam parecer mais espertos do que são.

Consegui fazer a viagem em 2003, acompanhado da fotógrafa Luiza Leite. Foram 3 mil fotos, em diversos registros, do digital, a roleiflex, passando pelos últimos filmes polaroids disponíveis no mercado.

Foram meses de viagem da costa Leste até a Costa Oeste.

Depois da viagem, fui no programa do Jô Soares e contei umas pitadas da história.

Sete anos depois, ainda não havia terminado de escrever o livro. Editores, amigos, a fotógrafa do projeto, todos já estavam descrentes que algum dia ele seria finalizado. Ir a Bienal do Rio, a Flip de Paraty, ou a Feira do Livro de Porto Alegre era passar o vexame de dizer: "Paciência. Tá ficando pronto." durante 7 anos, eu respondia com cara de Guilherme Fontes. Este livro era o meu Chatô. Seria a minha ruína.

Agora está ficando pronto.

E ontem foi aniversário de Jack Kerouac.

Resolvi:

1) Comemorar o aniversário de Kerouac aqui, agora, neste post.

2) Passar a publicar algumas fotos da viagem e, quem sabe, trechos do romance - ainda sem título.

3) Atualizá-los com a produção do filme On The Road, projeto de Francis Ford Coppola e Walter Salles, que também está encruado, no papel, há quase tanto tempo quanto meu livro.



Começando pelo começo. O Aniversariante:

Aqui, um raro registro de Kerouac falando em sua lingua natal, o francês:

http://archives.radio-canada.ca/arts_culture/litterature/clips/126/











Trechos de On The Road

''Para mim, pessoas mesmo são loucos, os que estão loucos para viver, loucos para falar, loucos para serem salvos, que querem tudo ao mesmo tempo agora, aqueles que nunca bocejam e jamais falam chavões, mas queimam, queimam, queimam como fabulosos fogos de artifício explodindo como constelações''.

''Ele se aproximou vagarosamente: 'Ei rapazes, vocês estão indo para algum lugar específico ou apenas estão indo?Não entendemos bem a pergunta. Era uma pergunta boa pra cacete''.

''Foi triste vê-los partir; percebi que jamais voltaria a rever qualquer um deles, mas na estrela era assim mesmo''.

''Simplesmente não dormirei nunca, decidi. Havia tantas outras coisas interessantes para fazer''.

''De repente, percebi que estava na Califórnia. Ar cálido e próspero soprando entre as palmeiras - ar que se pode beijar''.

''Pelo menos tinha aprendido a rir melhor do que qualquer pessoa no mundo, e eu percebi o quanto nos divertiríamos em Frisco''.

''Todos os maus espíritos desse mundo estão a fim de nossa cabeça. Depende da gente impedir que eles nos imponham ordens''.

''Botei a cabeça para fora da janela e aspirei profundamente o ar perfumado. Foi o mais sublime de todos os momentos''.

''Mas para que pensar nisso quando se tem pela frente toda a vastidão dourada da Terra e acontecimentos imprevisíveis de todos os tipos estão à espera, de tocaia, para te surpreender e te fazer ficar satisfeito simplesmente por estar vivo para presenciá-los?''

''Quando eu fechava os olhos, tudo que eu sentia era a estrada sendo devorada embaixo de mim''.

''Chega o momento de agir e eles ficam completamente paralisados, histéricos, assustados - nada mais os amedronta do que aquilo que querem''.

''Estendido sobre a capota do carro olhando para o céu escuro era o mesmo que estar trancado dentro de um baú numa noite de verão. Pela primeira vez na vida, o clima não era algo que me envolvia, m
e acariciava, me enregelava ou fazia suar - mas era parte de mim mesmo! A atmosfera e eu nos tornamos a mesma coisa''.

Aniversário da morte de Bukowski. "Por que é que ninguém sai gritando?"








Prefácio de Pergunte ao Pó, de John Fante
por Charles Bukowski


Eu era um jovem, passando fome e bebendo e tentando ser um escritor, Fiz a maior parte das minhas leituras na Biblioteca Pública de Los Angeles, e nada do que eu li tinha a ver comigo ou com as ruas ou com as pessoas em minha volta. Parecia que todo mundo estava brincando de jogar com as palavras, que aqueles que não diziam quase nada eram considerados escritores excelentes. Seus escritos eram uma mistura de sutileza, artesanato e forma, e era lido e era ensinado e era ingerido e acabou. Era um esquema confortável, uma Cultura da Palavra, muito malandra e cheia de nove-horas.

Era preciso voltar aos escritores da Rússia pré-revolucionária para achar alguma ginga, alguma paixão. Havia exceções mas essas exceções eram tão poucas que a gente as lia logo, e lá estava você olhando para filas e filas de livros chatos pra caralho.

Com séculos para olhar para trás, com todas as suas vantagens, os modernos não davam pra saída.

Tirei livro após livro das estantes. Por que é que alguém não diz alguma coisa? Por que é que ninguém sai gritando?

Tentei outros livros na biblioteca. A seção sobre religião era um pé no saco. Fui pra filosofia. Encontrei alguns alemães amargurados que me animaram um tempo, mas não passou disso. Tentei matemática, mas matemática superior era igualzinho religião: não saquei bulhufas. O que EU precisava parecia não existir em lugar algum.

Tentei geologia e a achei curiosa mas, finalmente, insubstancial.

Achei alguns livros sobre cirurgia e gostei dos livros sobre cirurgia: as palavras eram novas e as ilustrações maravilhosas. Gostei particularmente e memorizei a operação no mesocólon.

Daí eu abandonei a cirurgia e voltei para a sala dos romancistas e contistas (Quando eu tinha bastante vinho barato pra beber eu nunca ia a biblioteca. Uma biblioteca era um bom lugar para ir quando você não tinha nada pra beber nem pra comer, e a dona da pensão estava atrás de você e do dinheiro do aluguel. Na biblioteca, pelo menos, você tinha uma privada que preste). Vi uma porção de vagabundos lá, a maior parte dormindo em cima dos livros.

Eu ficava andando pelo salão, tirando os livros das estantes, lendo umas linhas, algumas páginas, depois pondo de volta.
Então um dia peguei um livro, abri e lá estava. Parei por um momento, lendo. Então como alguém que achou ouro no lixo, levei o livro para uma mesa. As linhas rolavam fácil pela página, havia uma corrente. Cada linha tinha sua própria energia e era seguida por uma outra que nem ela. A própria substância de cada linha dava uma forma à página, a sensação de alguma coisa esculpida ali. E, aqui, afinal, estava um homem que não tinha medo da emoção. O humor e a dor estavam misturados numa esplêndida simplicidade. Começar aquele livro foi um selvagem e enorme milagre pra mim.

Eu tinha um cartão da biblioteca. Tirei o livro, levei-o para meu quarto, me joguei na cama e li, e eu sabia muito antes de terminar que aqui estava um homem que tinha desenvolvido um jeito diferente de escrever. O livro era Pergunte ao Pó; e o autor, John Fante.

Ele ia ser uma influência permanente sobre o meu modo de escrever.

Terminei Pergunte ao Pó e procurei outros livros de Fante na biblioteca.

Achei dois: Dago Red e Espere Até a Primavera, Bandini. Eram da mesma categoria, escritos com as tripas e com o coração.
Sim, Fante teve um puta efeito sobre mim. Logo depois de ter lido seus livros, comecei a viver com uma mulher. Ela bebia mais que eu e tivemos umas brigas brabas e então eu gritava para ela:

- Não me chame de filho da puta! Eu sou Bandini, Arturo Bandini!

Fante era meu deus e eu sabia que os deuses devem ser deixados em paz, não se bate na porta deles. Mesmo assim eu gostaria de saber onde ele tinha vivido em Angel’s Flight e imaginei que ele ainda podia estar vivendo lá. Quase todo dia eu passeava por lá e pensava: foi por essa janela que Camila passou? Essa é a porta do hotel? E essa a portaria? Nunca cheguei a saber.

39 anos depois, reli Pergunte ao Pó. Isto é, reli este ano e lá estava ele inteiro, como as outras obras de Fante, mas esta é a minha predileta porque foi minha primeira descoberta da mágica.

Há outros livros além de Dago Red e Espere Até a Primavera, Bandini. São Cheio de Vida e A Irmandade da Uva. E, atualmente,
Fante tem um romance em obras, uma obra romance em processo, uma obra em obras, Um Sonho de Bunker Hill.

Através de outras circunstâncias, finalmente encontrei o autor este ano. Tem muito mais coisa na história de John Fante. É a historia de uma sorte terrível, e um terrível destino, e de uma coragem rara e natural.

Algum dia vai ser contada mas eu sinto que ele não quer que eu a conte aqui. Mas quero dizer que o jeito de suas palavras e o jeito do seu jeito são ainda os mesmos: fortes e bons e quentes.

Chega. Agora esse livro é de você.

(Extraído de Pergunte ao Pó - Editora Brasiliense, 1987)