10 anos de procura. Por um VHS que fosse. Por um trecho no youtube que fosse. Nao me recordava o nome do filme, apenas a historia. De Ruy Castro a toda equipe da lendaria locadora de VHS Macedonia, todos negaram conhecer um filme com a descricao "tudo que me lembro e' que se trata de um filme onde o mordomo vira patrao depois de um grupo de aristocratas naufragarem numa ilha". O nome do filme um misterio. A memoria, outro.
Um dia, em silencio, batucando o teclado sem acento do notebook, achei. ACHEI. Eram 4 horas da manha e nao dava pra gritar um ACHEI engasgado por 10 anos. Pensei em ligar pro Ruy, pensei em procurar um forum do filme. Nada, era eu o fa unico de uma memoria afetiva da sessao da tarde do fim dos anos 70.
O filme se chama "O Mordomo e a Dama", e' de 1957, e eu havia encontrado quem me arrumasse justamente a versao dublada do filme em DVD.
Era o meu Rosebud.
Os dias passaram, Rosebud chegou pelo correio, sentei no sofa para me reencontrar com o filme. Nos creditos, uma supresa: tratava-se de um filme com pedigree - era uma peca de Sir J.M. Barrie, autor de Peter Pan. Mais, era uma peca pra la' de triste, uma comedia romantica que virou filme tosquinho, delicioso mas amargo, sobre a divisao de classes inglesa na virada do sec 19 - logo, no resto do mundo.
The Admirable Crichton - titulo original da peca, escrita em 1902, era o LOST do inicio do sec 20. Tambem por causa da historia - naufragos veem sua vida zerada numa ilha deserta, reorganizam seu sistema, organizam uma vida nova, com novos lacos afetivos, relutam em ser resgatados e quando o sao, cogitam voltar para a ilha.
O Mordomo, o tal do admiravel Crichton, vai de servical tratado como se nem gente fosse, ate o lider da tribo cobicado por todas as mulheres e admirado por todos os homens. A Dama, e' uma inglesinha aristocrata sufragista a frente de seu tempo, que vai, na hora do vamo-ver, relutar em reconhecer sua paixao por um reles mordomo. Vejamos "sufragio" no google: intelectuais envolvidos com os movimentos sufragistas - John Locke, Jeremy Betlhan, Russeau.
O seculo 21 comeca como comecou o 20. Sob a egide de uma ficcao que trata de naufragos divididos entre continuarem perdidos e serem encontrados. Somos nos. Nao duvido que no ano de 2100 estejamos ainda encantados por historias assim.
Ao reencontrar o filme "O Mordomo e a Dama", me reencontrei um pouco. O resgatado, afinal, fui eu.
Rosebud
sábado, 9 de janeiro de 2010 | Postado por Dodomundi às 07:54
Assinar:
Postar comentários (Atom)
0 comentários:
Postar um comentário